Freud desenvolveu extensamente em sua obra o conceito de Pulsão, algo que, pare ele, nos diferencia dos outros animais. Os demais animais seriam dotados apenas de instintos, enquanto nós teríamos as pulsões, uma leitura dos instintos atravessadas pelo desejo, que perpassa pela cultura e busca o seu objeto nunca encontrando-o, mas que mesmo assim consegue a sua satisfação, seja de forma ativa ou passiva.
O objetivo do presente estudo é discernir instinto de pulsão em Freud e explanar o princípio organizativo do caráter pulsional.
A pulsão não se limita ao repertório biológico como nos nos instintos, nas pulsões são abarcadas fantasias, fetiches, objetos de satisfação, sonhos e diversos outros fenômenos psíquicos e espécies de narrativas. As pulsões foram inicialmente divididas em pulsão de Vida, chamada de Eros e a pulsão de morte (Thanatos). Porém a sexualidade do sujeito em Freud também tem uma propriedade organizativa, o que traz uma ambivalência. Seria a pulsão intrínseca à sexualidade tão perigosa assim para o Ego? Ou seria uma parte fundamental deste?
A pulsão é organizada a partir de uma necessidade que define qual é o objeto de desejo. Por exemplo: Se eu estiver com sede o meu objeto de desejo vai ser água e para isso vou buscar satisfazer essa minha necessidade. Esse é um exemplo muito simples, agora vamos para um exemplo mais complexo.
Imagine que existe um adulto de 30 anos que busca um emprego. O objeto de desejo dessa pessoa é um emprego e a pulsão dele está organizada em princípios de sobrevivência que fazem ele fantasiar com a conquista do emprego, sonhar com as consequências de conseguir o emprego, construir narrativas que envolvam o seu desejo, dentre outros fenômenos.
Assim funciona o princípio organizativo da função chamada pulsão. Um animal não tem a capacidade – cientificamente comprovado, ao menos – de organizar suas necessidades a partir de fantasias, fetiches – articulações de fantasias de forma que seu desejo domine e que tenha um objeto transicional que lhe remeta ao infantil, essa é a definição atual de fetiche para a psicanálise -, sonhos – fantasias que lhe permitem ter sensações semelhantes à vivência do desejo -, dentre outros fenômenos. E por que chamo a pulsão de função ?
Porque a pulsão tem uma função clara de organizar o aparelho psíquico do sujeito de forma a autorregular o seu organismo. O sujeito satisfaz as suas necessidades – de forma ativa ou passiva – através das pulsões. Sem a pulsão o organismo teria apenas as suas necessidades mais óbvias reconhecidas – como a do exemplo da sede – e o sujeito seria alvejado por muito sofrimento.
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FREUD, S. (1969). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e J. Salomão, Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp. 119-231). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1905).
FREUD, S. (2004). Pulsões e destinos da pulsão. In L. A. Hanns (Ed. e Trad.) Obras Psicológicas de Sigmund Freud:Escritos sobre a psicologia do inconsciente (Vol. 1, pp. 133-173.). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1915).
NETTO, N. K. P. & CARDOSO, M. R. Sexualidade e Pulsão: Conceitos Indissociáveis em Psicanálise ? Psicologia em Estudo. Maringá. V. 17, n. 13, p. 529-537, jul-set. 2012.
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